terça-feira, 10 de janeiro de 2012

• Sempre à remar •



São quase 2h da manhã e estou aqui, sozinha em meu quarto, fazendo uma retrospectiva da minha vida. Talvez não só uma retrospectiva, mas uma projeção também, sei lá.. (Talvez sejam efeitos colaterais da falta de sono).

Desde a última vez que escrevi sobre minha vida, a mesma deu um salto duplo carpado, um giro de 360º, fiquei perdida no ar muito tempo e sinto que agora pude tocar o solo novamente.

Talvez por mais que eu escreva, jamais vou consegui reproduzir tudo o que vivi, vi e ouvi nos últimos 12 meses. Mas mesmo assim vou tentar registrar pensamentos... e são tantos!

Você já imaginou o que seria necessário acontecer para que sua vida mudasse completamente da noite para o dia? Ganhar na loteria, talvez? Ou virar hippie? É bom pensar positivo. Mas e se o que acontecer for algo altamente doloroso para você?

Pois bem, jamais imaginei que a mudança em minha vida viria de algo tão doloroso, cruel e inacreditável.

Perdi minha mãe.

Não, não perdi só minha mãe. Perdi minha bas

e, meu refúgio, meu amor, minha alma-gêmea, minha melhor amiga. Eu desejava tanto por mudanças em minha vida, que jamais pude supor que “pagaria” um preço tão alto por isso: ficar longe de quem eu amo.

E lá estava eu, zonza com a notícia, diante de uma realidade tão cruel e que de modo algum eu queria acreditar que fosse verdade. Todos os dias eu ia dormir, desejando acordar daquele pesadelo. Não conseguia conceber que ela não estava mais aqui. Ela estava bem, comigo... como pôde repentinamente uma dor no peito tirar sua vida? Como pôde ela também virar uma estatística? Não, minha mãe não! (Pensava isso todos os dias...)

Mas a realidade era aquela e não tinha como fugir. Apesar de muitas vezes eu tentar. Inutilmente eu tentava fugir de mim. Foram noites intermináveis

acordada esperando ela chegar, e dolorosas manhãs ao ir dar bom dia e encontrar a cama vazia.

Eu pensava em tudo o que eu poderia ter feito diferente, em tudo em que eu poderia ter me dedicado mais, mas esses pensamentos só me maltratavam, só machucavam ainda mais aquele coração partido de saudade do abraço mais importante do mundo.

Posso dizer que vivi a célebre frase: Meu mundo caiu.

Erguer a cabeça e seguir adiante foi o passo mais difícil. E aceitar que existiam pessoas que dependiam de mim, uma casa para cuidar e contas para pagar foi pior ainda. Em tudo eu esperava por uma opinião ou por um socorro.

Tive que aprender a lavar, passar, cozinhar, administrar, consolar e o principal: a seguir adiante. Mas como? Com crises intermináveis de choro, muitas vezes de desespero, incrédula de tudo o que eu estava vivendo.

Eu jamais imaginei que ela partiria tão jovem, tão cedo. Eu havia traçado um plano, e cuidar dela até ficar bem velhinha estava incluído nele.

Tive que recalcular minha rota, reinventar meus desejos e aprender a enxergar quais eram mais sonhos. A partir daquele momento, a palavra chave era: superação.

Descobri que chorar não move montanhas, apenas alivia para continuar a caminhada. E a minha era árdua, estava buscando verdadeiramente ir do LUTO à LUTA. Encarar os fatos e aceitar ajuda era fundamental, era minha bóia salva-vidas.




Eu estava à deriva.



Crescer não é fácil, por isso criança chora. Adultos também. E eu estava mais uma vez vivendo uma metamorfose, crescendo, aprendendo, buscando por um suspiro... que muitas vezes pensei que fosse o último.

Mas não foi.

Descobri que o copo e que tomamos água não anda sozinho, e que quem quer roupa limpa tem que lavar! Aprendi que o banco não é seu amigo, portanto contas devem ser pagas na data. Descobri que existem impostos, e muitos. Entendi que por mais que você esteja sofrendo, existe alguém esperando por seu sorriso.

Ou até mesmo alguém que esteja esperando por sua lágrima. Alguém que te ama verdadeiramente, que chora seu choro e vibra seu sorriso.

Por diversas vezes me senti sozinha no meio de muitos, e contraditoriamente completa no meio do nada. Aprendi a apreciar o silêncio, assim como o ritmo frenético do dia-a-dia.

Foram 12 meses de luta, de busca, de espera, de serenidade e principalmente: de aprendizado. Talvez por isso foram longos 12 meses sem tempo para registros dos meus pensamentos.

Sinto que não estou mais à deriva. Estou no meu bote salva-vida remando, se lento ou não, eu não sei. Mas o que importa é que eu continuo à remar...

... sempre à remar!